4 Perguntas sobre Marx — Livro introdutório para o estudo da teoria marxista, lançado nos anos 1970, ganha primeira edição no Brasil
Resumir e explicar. A tarefa era hercúlea nos anos 1970, época em que o mundo passou a culpar os trabalhadores e os movimentos de esquerda pelo freio na expansão econômica de pós-Guerra. Mas O Capital de Marx, obra agora traduzida no Brasil pela Editora Contracorrente, avançou por décadas e chega à sexta edição atualizando o pensamento de Karl Marx. A proposta do livro sempre foi tornar o denso estudo do filósofo alemão, sobretudo a teoria do valor, em algo compreensível, uma obra introdutória.
O livro possui 215 páginas e trata de temas como o capital e a exploração capitalista, a acumulação do capital, a financeirização, e chega até o neoliberalismo. No prefácio da edição em inglês, os autores Ben Fine e Alfredo Saad-Filho resumem ”O capitalismo neoliberal está no meio de uma crise sem precedentes”. Abaixo, o economista Saad-Filho responde a quatro perguntas para situar a importância de se compreender a obra-prima de Marx:
O Capital identifica e analisa as categorias que definem o capitalismo e o distingue de outros modos de produção, portanto, o livro tem validade enquanto existir o capitalismo. O Capital tem ganhado relevância e vitalidade nos últimos 150 anos, conforme o capitalismo predomina no mundo e se apura, eliminando traços de modos de produção anteriores.
A financeirização da economia é o núcleo dinâmico do neoliberalismo. E a grande crise financeira global, iniciada em 2007 e ainda sem resolução, é uma crise da financeirização, de superprodução de ativos financeiros. O pensamento marxista traz os elementos para entendê-la: capital portador de juros, capital fictício, superacumulação, superprodução. Com isso, oferece uma abordagem rica de um fenômeno complexo, que outras teorias têm dificuldade em explicar.
O marxismo explica a existência e o crescimento da classe trabalhadora assalariada, em contraste com o poder crescente da classe capitalista, que controla os meios de produção. Os motoristas de uber, entregadores, supostos "colaboradores" de grandes empresas sem vínculo formal de trabalho, mas efetivamente empregados, são membro da mesma classe trabalhadora examinada por Marx. Mudou a forma, o conteúdo é o mesmo, e a teoria continua relevante.
A teoria marxista seguirá vital. No pós-pandemia, a financeirização, o trabalho assalariado, o progresso técnico e o metabolismo entre sociedades humanas e o meio ambiente, para explicar a crise ambiental, tornam-se cada vez mais relevantes e estão contidos na obra de Marx.
Matéria publicada por Eduardo Nunomura na Carta Capital em 14 de Abril de 2021.