O Kope inova ao oferecer cursos a preços acessíveis com pensadores renomados do Brasil e do mundo
Um dos mais importantes filósofos da Grécia Antiga, Sócrates, tinha como prática conversar com os cidadãos, discípulos ou não, na rua, na praça, nos espaços públicos, sobre os mais variados temas, os valores morais que norteiam uma sociedade e a conduta dos homens. E da reflexão desses diálogos constantes nasciam as ideias do conhecimento. Como se vê, a busca pela democratização do acesso ao conhecimento é bem antiga e, curiosamente, graças ao papel decisivo da tecnologia, tem sido revitalizada em meio a uma das mais graves crises sanitárias do mundo moderno, que impõe regras rígidas de convívio social, restrição à circulação e medidas de isolamento.
As plataformas digitais que vicejaram nos últimos anos, e mais ainda na pandemia, conectam gente de diferentes lugares no mesmo ambiente virtual e, com esse trunfo, viabilizam propostas inovadoras como a plataforma Kope, sigla de Knowledge for People, criada em abril de 2020. Neste um ano, ela acumula 16 cursos online, com mais de 300 intelectuais de várias partes. do mundo, entre eles, Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, Boaventura de Souza Santos, professor catedrático aposentado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, e Alain Badiou, filósofo, dramaturgo e novelista francês. “Nosso projeto é pioneiro na educação brasileira, ao permitir acesso a conhecimentos de pesquisadores e professores até agora limitados ao círculo acadêmico das melhores universidades do País e do mundo. Ele une a qualidade do ensino presencial à conveniência do ensino a distância”, afirma Walfrido Warde Jr., sócio do Kope, em parceria com Rafael Valim.
Os sócios preparam voos maiores. No segundo semestre, com investimento de 10 milhões de reais e desenvolvimento próprio, vai sair do papel um projeto similar às plataformas de streaming, em que todo o conteúdo ficará disponível mediante pagamento de mensalidades. Haverá, ainda, espaço para debates e discussões sobre os temas tratados, a fim de manter o diálogo constante. Também está nos planos expandir o Kope para América Latina, Europa, países árabes e Ásia, com conteúdo legendado e idioma escolhido pelo aluno.
Um dos pilares da plataforma é facilitar o uso até pelo celular e a preços compatíveis com a realidade brasileira, entre 200 e 400 reais, e oferta de bolsas. Outro, o conteúdo diferenciado, de qualidade, com pluralidade de visões do mundo para provocar reflexão e levar à tomada de decisões que gerem transformação social. A Kope é filha do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (Iree), presidido por Warde Jr. e do qual Valim é diretor. Criado em 2016 como centro do pensamento político brasileiro dedicado a discussões e reflexões sobre as relações entre o público e o privado, o Iree tem uma pauta ampla de debates sobre questões econômicas, políticas e sociais, em centenas de estudos e seminários.
A pandemia levou a dupla a desengavetar um antigo projeto de uma escola de lideranças políticas no meio virtual. A semente foi o Curso de Introdução à Política. Ministrado por 33 intelectuais de vários campos ideológicos, o Cipol, ainda disponível no site do Kope, aborda as bases da organização da sociedade brasileira, sua inserção na história das ideias políticas, o funcionamento das instituições e o desenvolvimento socioeconômico do País. Os mais de 3 mil alunos em um ano animaram Warde Jr. e Valim a lançar o segundo curso, Economia para Pensar o Brasil. Em seguida, o Kope lançou A Reinvenção do Direito Administrativo, primeira iniciativa em parceria com uma entidade internacional, o Foro Iberoamericano de Derecho Administrativo (Fida).
Suprir o interesse dos brasileiros pelo debate público, afirma Warde, é o principal objetivo da plataforma. “O pessoal quer se expressar e existir intelectualmente.” Nasceu daí a opção inicial por cursos livres, de curta duração, temas diversos, conteúdos de excelência e preços acessíveis. Longe do modelo vigente no qual os sistemas de ensino digitais replicam a lógica da escola física, sua hierarquia, diploma e barreiras financeiras, o Kope faz a curadoria dos cursos, enquanto a coordenação é entregue a um especialista renomado, sob a supervisão dos sócios. O curso Racismo e Política: Questões Contemporâneas foi organizado por Sílvio Almeida, advogado, filósofo, professor universitário e autor de Racismo Estrutural. A obra Penso, Logo Existo: Filosofia para um Mundo Melhor”, lançada em março, após oito meses de preparação, com 23 intelectuais da América Latina, África, Europa e Estados Unidos, ficou a cargo de Diogo Sardinha, filósofo português autor de livros sobre o pensamento moderno e contemporâneo e primeiro estrangeiro na presidência do Colégio Internacional de Filosofia em Paris.
Ter vários professores no mesmo curso é um predicado do Kope para garantir a qualidade e a pluralidade de visões, o que exige uma boa rede de relacionamentos e parcerias, inclusive no exterior, o que a trajetória acadêmica dos dois sócios facilita. Doutor em Direito e bacharel em Filosofia pela Universidade de São Paulo, Warde Jr. fez mestrado em Direito na Universidade de Nova York e foi quatro vezes pesquisador bolsista no Instituto Max Planck de Direito Comparado, na Alemanha. Valim, doutor em Direito Administrativo pela PUC de São Paulo, é professor visitante na Universidade de Manchester, na Université Le Havre Normandie, na Universidad Panamericana (México), na Universidad de Comahue (Argentina) e acadêmico visitante no Institute of European and Comparative Law da Universidade de Oxford. Para os dois, o conhecimento é um bem da humanidade e precisa ser compartilhado. “Queremos popularizá-lo, por meio do acesso a ideias e correntes de pensamento professadas pelos maiores intelectuais do Brasil e do mundo, reunidos como nenhuma universidade seria capaz de fazê-lo, num conjunto sistematizado de cursos que se expande”, afirma Warde Jr. A tecnologia vai permitir que ele esteja disponível a qualquer momento e possa ser acessado de qualquer lugar, até em uma praça pública.
A plataforma de ensino tem o objetivo de popularizar o conhecimento, um “bem da humanidade”
Para saber mais, acesse a plataforma da KOPE.
Matéria original publicada por Cleide Sanchez Rodriguez na Revista Carta Capital em 28 de Abril de 2021.